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A dupla Dunga-Jorginho completa neste mês um ano e meio à frente da Seleção. Considerado por muitos um “tampão” quando assumiu o cargo em agosto de 2006, após o fiasco do Brasil na Copa da Alemanha, o técnico, que debutou na função logo à frente da equipe pentacampeã mundial, tem no currículo um título da Copa América, conquistado ano passado em vitória por 3 a 0 sobre a Argentina, na Venezuela.
Perguntado em entrevista exclusiva ao Terra se houve algum tipo desabafo no vestiário após a conquista, Dunga afirma que a equipe não tem de responder a ninguém. “Dentro da Seleção a gente está tentando passar uma imagem de jogar por amor, por carinho. Não é por ódio”.
O auxiliar-técnico Jorginho, também entrevistado com exclusividade, já projeta o sonho de levantar mais uma Copa do Mundo, já que foi campeão como jogador, a exemplo de Dunga, em 1994, nos Estados Unidos. “Não tenha dúvida de que esse é um sonho que a gente tem que colocar no nosso coração”, disse o ex-lateral sobre a competição que será disputada em 2010, na África do Sul.
Confira a íntegra da entrevista concedida por Dunga e Jorginho abaixo:
Terra – Dunga, há um ano e meio à frente da Seleção, duas imagens suas marcaram. Uma na final da Copa América, quando camisas do Brasil campeão eram distribuídas (antes do fim do jogo) e você mandou parar. Outra no jogo contra o Uruguai, em que você comemorou muito um gol do Brasil, o segundo do Luís Fabiano, com um soco no banco de reservas. Esse é o Dunga que todo mundo vê, à frente das câmeras. Como é o Dunga com os jogadores da Seleção fora do campo?
Dunga – Sou um cara tranqüilo, direto, objetivo, transparente… quando tem que ser rígido, sou rígido. Agora, quando não precisa, não tem o porquê. Se está tudo correndo bem, todo mundo se comportando bem, tento o máximo de diálogo possível com os jogadores. Dou liberdade para eles conversarem comigo, porque são eles que vão para o campo. Eles têm que passar para a comissão técnica o que está se passando, para nós tentarmos ajudar e tentarmos corrigir essa situação.
Terra – Nesse um ano e meio na comissão técnica da Seleção Brasileira, qual foi a sua maior alegria?
Jorginho – Nós tivemos muitas… a cada jogo era uma grande alegria, a gente ultrapassava barreiras. Mas não tenha dúvidas de que a Copa América foi uma alegria muito especial, porque a gente passou por momentos difíceis, das pessoas não acreditarem no trabalho no processo, nessa mudança que o Dunga estava realizando. A gente chegar diante de uma conquista foi um momento de tamanha alegria para todos nós.
Terra – Houve uma comemoração, um desabafo no vestiário de vocês? Houve alguma corrente depois daquele jogo, algum discurso… alguém se emocionou naquele dia em Maracaibo?
Dunga – Não. O que eu passei para os jogadores, e o que eu passo sempre antes das partidas, é que a gente tem que jogar para quem gosta da gente. Para quem acredita na gente, nossos parentes, nossos amigos… dentro da Seleção a gente está tentando passar uma imagem de jogar com amor, com carinho, não é por ódio, por resposta a alguém, porque o cara fala mal e tu vais jogar para ele. Não, ele (o jogador) não acredita. Tem que falar para as pessoas que torcem, que sofrem contigo no dia-a-dia. É para essas pessoas que a gente deve dar a resposta.
Terra – Você ganhou um título mundial com a Seleção, se consagrou na Itália, na Alemanha e no Japão como jogador. Ainda falta alguma coisa? Você ainda tem algum sonho?
Dunga – Tenho vários. Acho que estar na Seleção Brasileira é um sonho, é um desafio. Tento passar para os jogadores que a gente deve estar vivendo o desafio. Tento colocar os obstáculos maiores. E na Seleção a gente não tem que pensar no que a gente venceu, e sim o que a gente pode vencer e no que a gente pode contribuir para a Seleção. Queira ou não, a Seleção Brasileira é o que leva o nosso nome para fora do Brasil, que abre as portas para o Brasil, para conhecerem a cultura, a economia, vários setores. Então nós temos que representar bem. Acho que esse é o maior sonho, você estar aqui na Seleção Brasileira, tentando passar uma mensagem para o País, os nossos jogadores representando o nosso país da melhor maneira possível. A cada dia existe um sonho a ser realizado.
Terra – Você, Jorginho. Campeão do mundo como o Dunga, campeão da Copa União de 1987 pelo Flamengo… falta alguma coisa para o Jorginho ainda?
Jorginho – Creio que eu aproveitei bastante meu tempo como atleta, agora estou em uma outra fase. Eu quero dar o melhor como auxiliar-técnico, facilitar muito o trabalho do Dunga. Tenho o sonho de ser um dos melhores auxiliares-técnicos que a Seleção já teve (risos)… não vai ser fácil ultrapassar isso, afinal de contas a gente teve o Zagallo aqui. Mas é realmente um sonho nosso de chegarmos na Copa do Mundo e, se Deus quiser, conquistar o título em 2010.
Terra – Quando você assumiu o comando da comissão técnica em agosto de 2006, muita gente chamou você de ¿tampão¿. Muita gente falou que você sairia dali a um, dois anos, era apenas uma questão de tempo, de cumprimento de contrato para que alguém viesse depois. Como você se vê hoje e qual é o plano que você traça para frente?
Dunga – Como o Jorginho falou, quero fazer o melhor para a Seleção. Nunca me preocupei com o que as pessoas falavam de eu ser um “tampão”. Eu estou aqui para servir a Seleção Brasileira. É uma convocação, tu és convocado para representar o teu país, então você não pode se preocupar em termos de contrato. Tanto é que eu não tenho contrato, sou funcionário da CBF normal, tanto eu quanto o Jorginho. Nunca nos preocupamos em dois anos, em três anos de contrato. (Estamos preocupados) em fazer um trabalho. A gente sabe que o futebol é resultado, é dar o melhor. O que eu passo para os jogadores são as metas que eu tenho. Nenhum ex-jogador assumiu a Seleção Brasileira como técnico pela primeira vez. Nenhum ex-jogador teve os resultados que a gente está tendo. Então a gente tem que buscar mais. Por exemplo, aonde o Brasil nunca ganhou, a gente tem de ganhar. Aonde o Brasil já ganhou, a gente tem que ganhar melhor, tem que fazer um resultado melhor. São todos obstáculos que a gente tem que ultrapassar e tem que botar como meta. Outra coisa: não tem que pensar no que falam do negativo, vamos pensar em coisas positivas, porque o negativo não vai ajudar. E o positivo vai contribuir para que a gente realize o bem o nosso trabalho.
Terra – Vocês levantaram a taça como jogadores em 1994. Dá para sonhar em levantar aquele troféu, o mesmo, na África do Sul em 2010?
Jorginho – Eu tinha saído do jogo, naquele último jogo quando eu me machuquei (final da Copa do Mundo contra a Itália). Mas eu sempre fui um cara muito otimista, muito positivo. E eu imaginava, mesmo ali no banco e torcendo quando a gente disputava os pênaltis, o Dunga levantando aquele troféu. Acho que é um sonho nosso, que a gente já está colocando na nossa cabeça, no nosso coração. É um desejo, sabemos o quanto é difícil, há tantas seleções, grandes seleções que vão disputar a Copa… a gente está ainda em um processo de classificação. Mas não tenha dúvida de que esse é um sonho que a gente tem que colocar no nosso coração, para que isso se torne se torne um alvo a ser atingido.
com informações do site terra
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